domingo, 29 de junho de 2008

Eu e a Pena

Dormir com a caneta na mão. Já me aconteceu várias vezes, e sempre rio ao acordar e perceber isso, se um dia fizerem um filme sobre minha vida, isso render um bom detalhe, daqueles que só depois da fama ganham status de premonitório, tipo 'nossa, antes mesmo do primeiro livro publicado ela caía de cara no caderno e sem querer riscava os lençóis' - eis uma daquelas frases que nem se pronuncia, porque mal se percebe quando ela se forma entre nossos pensamentos.

Mudando de tema no mesmo assunto, relato aqui uma observação: constatei o que todo mundo já sabe, o quanto a leitura colabora pra uma escrita desenvolta. Tomo a mim mesma por objeto de estudo: me impressiona como, quando me acho mais disposta pra ler, consigo escrever mais e mais fácil. Sei lá, sai mais solto, com menos força [note-se: com menos força, mas não sem esforço algum; escrever sempre me foi e será uma espécie de parto: ora normal, ora cesariana, ora à fórceps]. E nesses momentos escrever, especialmente quando fácil e não muito mal, me satisfaz tanto quanto um bom livro lido sem pressa mas em pouco tempo.

O ruim é que eu demoro. Rascunho, meço, desfaço, repito, espremo os neurônios até sair algo admissível, e tudo isso pra pouco depois revisar e alterar metade do que já considerava acabado. E assim segue: um escrito a cada ano bissexto, um meia boca, outro melhorzinho, todos eles mais ou menos aceitáveis.
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E adivinhem o que aconteceu enquanto eu rascunhava este texto? Sim, a caneta foi parar embaixo do travesseiro.

quarta-feira, 18 de junho de 2008



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São só palavras, teço ensaio e cena
A cada ato enceno a diferença
Do que é amor ficou o seu retrato
A peça que interpreto, um improviso insensato
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Essa saudade eu sei de cor

Sei o caminho dos barcos
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(E há muito estou alheio e quem me entende
Recebe o resto exato e tão pequeno
É dor, se há, tentava, já não tento
E ao transformar em dor o que é vaidade
E ao ter amor, se este é só orgulho
Eu faço da mentira, liberdade
E de qualquer quintal, faço cidade
E insisto que é virtude o que é entulho
Baldio é o meu terreno e meu alarde
Eu vejo você se apaixonando outra vez
Eu fico com a saudade, você com outro alguém)
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